terça-feira, 4 de janeiro de 2011

LINHA SOS PROFESSORES REGISTA 400 PEDIDOS EM 4 ANOS

Quase 400 pedidos de ajuda para situações de indisciplina nas escolas foram registados na Linha SOS Professores nos últimos quatro anos. Esses contactos foram feitos, na sua maioria, depois da tentativa de que os conselhos executivos resolvessem os problemas.

Numa escola da Pontinha, nos arredores de Lisboa, uma das professoras de Matemática já interiorizou a regra que tornou sagrada: “Nunca me viro para o quadro”. Porquê? “Não se sabe o que pode acontecer nas minhas costas”. Esta é a imagem de insegurança que marca o dia a dia de um elevado número de professores em Portugal. A indisciplina na sala de aula transformou-se num sério problema que, em muitas escolas do país, parece tender a agravar-se. Que dificulta o trabalho de elevado número de professores, que os afecta psicologicamente e, em muitos casos, os leva a meter baixa médica.

Muitos destes casos nunca se tornam públicos mas são tema frequente de conversa nas escolas e motivo de queixas aos conselhos executivos. Quando o problema se arrasta e perante a falta de soluções, muitos docentes recorrem à linha SOS Professores, da Associação Nacional de Professores. Nos últimos quatro anos, foram ali registados quase 400 pedidos de ajuda para situações de agressão e de indisciplina nas escolas. A maioria foi apresentada por docentes do sexo feminino entre os 40 e os 49 anos que leccionam o terceiro ciclo ou o ensino secundário na zona de Lisboa e já têm mais de 26 anos de serviço. Os dados foram recolhidos entre Setembro de 2006 e Junho de 2009 e no período de Outubro 2009 a Junho 2010, totalizando os 386 contactos com aquela Linha. A grande maioria das situações diz respeito à agressão verbal (43,6 por cento) seguindo- se as queixas de indisciplina (29,5 por cento), de agressão física (27,8 por cento) e de mau relacionamento (13,6 por cento).

A maquilhar-se e a mandar mensagens

Numa escola de segundo ciclo do Areeiro, as alunas de 11 anos maquilham-se durante a aula de Português, mandam mensagens de telemóvel e contam anedotas. “Aquela sôtora não faz nada, podemos fazer o que nos apetecer”, diz uma delas. “Na aula de Inglês, não, ninguém manda um pio”. Porquê? “A DT [directora de turma] é bué exigente e não deixa”. Visto assim, o problema parece residir na incapacidade do professor impor autoridade.

Mas, nalguns casos, a questão é mais complexa e interligada aos meios desfavorecidos em que as escolas e os alunos pertencem. Como aquela em que o quadro não está afixado na parede, mas tombado no chão da sala de aula. É preciso pedir giz para escrever e não há apagador. Os que houve, foram logo roubados pelos alunos, crianças dos 5 aos 9 anos oriundas de bairros considerados muito problemáticos. Não há lápis de cor, nem cadernos, nem material nenhum. Mas é uma escola de ensino básico, do primeiro ao quarto ano. Não, não é em Moçambique. Fica no centro de Lisboa.

Os alunos são ainda muito pequenos mas nada parece intimidá-los. Respondem com o riso às ordens dos professores, saltam e correm na sala de aula. É impossível cativar a sua atenção para ensinar. Quando uma professora tentou impor-se, os pais protestaram, acusando-a de ser demasiado rígida e o caso foi analisado pelo director. A professora passa a dar aula de porta aberta, decidiu. “Assim, nestas condições e com estes miudos é impossível ensinar”, diz a docente, exausta.

Há estabelecimentos de ensino em que os incidentes assumem maior gravidade e dão lugar à violência. Numa escola da linha de Sintra um professor retirou um telemóvel a um aluno do oitavo ano que perturbava a aula. Furioso e com a ajuda de outros colegas, o rapaz “vingou-se” retirando o relógio ao professor. Este queixou-se ao conselho executivo que discutiu o caso, aplicou uma suspensão aos jovens e restituiu o relógio ao docente.

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